Batatas fritas da Liberdade III
quarta-feira, 10 de janeiro de 2007 22:42
Leiam a opinião do Euclides e em seguida a tréplica da Pérola.
Sempre de baixo pra cima desde o início.
Abs
Pitanga
----- Original Message -----
From: Pérola de Carvalho
To: Undisclosed-Recipient:;
Sent: Wednesday, January 10, 2007 7:06 PM
Subject: Re: Batatas fritas da Liberdade II
Pitanga,
vivemos épocas diferentes.Por isso, é muito mais fácil a mim compreendê-lo, dada a minha anterioridade, do que Você compreender "minhas justificativas", como Você as chama.
Sei o quanto, na sua geração, a bomba de Hiroshima, que já é um ícone (graças a Deus e às campanhas da paz e contra a bomba atômica, das quais participei ativamente nos meus tempos de USP), representa de repulsivo e inaceitável.
Mesmo porque, nestas últimas décadas, a imagem do JAPONÊS mudou consideravelmente, sobretudo depois do filme de Alain Resnais,"Hiroshima mon amour" e da aplicação de seus cérebros espetaculares no campo das máquinas automotoras e da informática. Ou quando, enfim, eles deram voz a cineastas como Akira Kurosawa, que internacionalizaram sua inteligência e sensibilidade.
Mas eis que o capital japonês entrou com toda a força, e então, a rendição foi total. E todos só passaram a ver e a reverenciar a extrema habilidade em fazer dinheiro e a potencialidade de trabalho do povo japonês.Tudo verdade.
Não há dúvida, porém, de que isso tudo também contribuiu, e bastante, para iconizar a bomba.
Não estou sendo cínica. Estou sendo apenas realista. Afinal, esta mensagem que vos escrevo, eu a redijo num Semp Toshiba... com o qual, por sinal, estou muito contente.
Quanto ao extermínio "da população civil de uma cidade", atingindo "inclusive mulheres e crianças indefesas", ele escandaliza Você pela quantidade ou pela ocorrência? Porque extermínios desse tipo são sempre condenáveis, qualquer que seja o número de pessoas atingidas.Ou qualquer que seja o artefato utilizado. Guernica, por exemplo, foi uma insana atrocidade. As bombas, que caíram ali, não eram atômicas, e as pessoas, mortas e estropiadas, não atingiram o número calamitoso de Hiroshima, mas também foram vítimas de um "ato sorrateiro e covarde" . E os espanhóis, republicanos ou não, não haviam atacado ninguém, nem estavam imbuídos dos ideais expasionistas de um Hirohito, de um Hitler, ou de um Mussolini. Ou de um Bush, que hoje já está na Somália (qual será a próxima?) .
Afinal, precisamos estar sempre atualizados...
E quando falo nos líderes, evito falar nos povos que os apoiaram, seja ativa seja passivamente, e exalto aqueles que sucumbiram, buscando opor-se à sua sanha assassina.
Não. Não justifico bombas atômicas. Se o fizesse, estaria renegando uma das partes mais lindas da minha juventude. E da qual me orgulho até hoje. Porque esse horror que Você, hoje, sente por elas, brotou ali, naqueles grupos uspianos liderados pela UNE e pela União da Juventude Comunista, que, todos os domingos, saíam pelas ruas, batiam nas portas das casas, entravam pelas favelas, angariando assinaturas e fazendo pequenos ajuntamentos, nos quais eslarecíamos e dabatíamos, com populares, os nossos pontos de vista.
Foi um movimento mundial até hoje vitorioso. Como não me orgulhar de ter participado dele?
Apenas quis que Você entrasse em contacto com um contexto que talvez desconheça. A história é muito mais rica de sentimentos e de interesses do que a gente imagina. E conhecer a ambos não invalida nossas idéias, mas as enriquece.
Tchau!
Pérola de Carvalho
----- Original Message -----
From: atendimento@euclidesoliveiraarquiteto.com.br
To: Pitanga do Amparo
Sent: Wednesday, January 10, 2007 3:01 PM
Subject: Re: Batatas fritas da Liberdade II
Vou meter minha colher neste assunto; o bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki, pelas mortes que causou e pelas consequências que deixou (os frutos da radiação) foi de uma violência e de uma crueldade inomináveis, criminoso e imoral. Harry Truman teve a opção militar de jogar a bomba sobre o mar, no litoral do Japão, mas preferiu o massacre de civís; é um criminoso de guerra tão desprezível quanto os nazistas julgados em Nuremberg.
Acho tudo isto uma questão muito complexa; antigamente os exércitos iam uniformizados para os campos de batalha e se massacravam mutuamente (e, eventualmente saqueavam as cidades conquistadas, estuprando e matando indiscriminadamente); mas de certa forma, os não combatentes ficavam longe da carnificina. Porém da Segunda Guerra Mundial em diante o alvo inimigo passou a ser os núcleos urbanos e seus habitantes, homens mulheres e crianças. Se de um lado os nazistas bombardearam Londres, Coventry, Lídice, etc. por outro os aliados arrazaram Berlim, Hamburgo, Leipzig, Desdren...E depois dela, tornou-se regra geral nas guerras a matança de civís. Pelo lado dos EUA veja-se o Vietnam (a força aérea americana jogou mais bombas sobre Hanói do que em toda a Alemanha durante a Grande Guerra), Afeganistão, Iraque...Acho que não existe a inocência numa guerra. Com o avanço tecnológico o sujeito mata os outros apertando um botão, vendo-os numa telinha inofensiva, o que é muito mais fácil do que enterrar pessoalmente a baioneta na barriga do inimigo. É quase como um jogo de computador. E existe o absurdo da indústria bélica onde o que se gasta em armas daria para acabar com a miséria e a fome na humanidade. A verdade é que a violência é ou foi tão grande (no século passado e neste) em toda a parte, na África, no Oriente Médio, na Palestina, na Bósnia, Sérvia, etc. que caimos no que a Hannah Arendt chamou de banalização do mal, já quase que não prestamos atençâo quando morrem uns dez mil aqui, uns cem mil ali...
Abs
Euclides